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História


Serra da Raiz - Paraíba/PB

A história de Serra da Raiz, assim como as histórias da Paraíba e do Brasil, é recheada de conflitos que moldaram a formação de nosso município. Muitos conflitos, desde a época das capitanias hereditárias com a concessão de sesmarias até 1795, aconteceram, desde simples escaramuças indígenas a revoltas internas.

Quando o rei de Portugal criou as capitanias hereditárias, não existia entre elas a capitania da Paraíba. O território que, aproximadamente, corresponde a atual Paraíba era ocupado pela capitania de Itamaracá, cujo donatário não teve condições de tomar conta, deixando-as praticamente inexplorada, dominada pelos índios e frequentada pelos  franceses que, "amigos" dos índios vinham constantemente buscar pau-brasil.

Enquanto isso, a capitania de Pernambuco, vizinha de Itamaracá, já estava muito próspera devido a grande produção de açúcar. Contudo, os senhores de engenho de Pernambuco sentiam-se incomodados pela vizinhança dos índios que habitavam Itamaracá, alegando que eles invadiam suas terras, destruíam suas lavouras e, instigados pelos franceses, os hostilizavam.

Por outro lado, ocorria que os franceses, diferentemente dos portugueses, não pretendiam tomar as terras dos potiguara e escravizá-lo, seu relacionamento com os índios era "amistoso". Os potiguaras trabalhavam para os franceses, extraindo pau-brasil e embarcando-o em troca de objetos variados.

As hostilidades dos portugueses com os potiguaras se agravaram muito após a chamada "Tragédia de Tracunhaém", incidente acontecido durante o período de colonização do Brasil, no ano de 1574, no qual índios mataram todos os moradores de um engenho chamado Tracunhaém em Pernambuco. Centenas de índios massacraram colonos e escravos de um engenho. A origem do nome "tracunhaém" vem do tupi e quer dizer "formigueiro" ou "panela de formigas", segundo Teodoro Sampaio.


A região que compreende o município da Serra da Raiz é vinculada a esse histórico episódio que deu início a colonização da Paraíba. Segundo historiadores, esse episódio ocorreu devido ao rapto e posterior desaparecimento de um índia, filha do cacique potiguar, o índio Ininguaçu ou Ininguassu, no Engenho de Tracunhaém (PE).


Tragédia em Tucunhaém

O cristão-novo Diogo Dias adquiriu terras próximas a Goiana, no vale do Rio Tucunhaém, para estabelecer um engenho. Um aventureiro mameluco chegou à aldeia potiguara na Cupaóba do chefe Iniguassu. Esta aldeia compreendia as terras hoje correspondentes aos municípios de Serra da Raiz, Duas Estradas, Lagoa de Dentro e Sertãozinho, no Brejo Paraibano. O mameluco foi recebido com hospitalidade, chegando a casar com uma de suas filhas, índia de grande beleza, Iratembé (Lábios de Mel). O casamento exigia que o mameluco permanecesse na aldeia. Numa ausência do cacique, o rapaz resolveu voltar ao seu lugar de origem, levando a índia. A primeira providência de Iniguassu foi enviar dois de seus filhos a Olinda, em Pernambuco, para reclamar justiça.

Por sorte, encontraram em visita a Pernambuco, o governador do Brasil, Antônio Salema, que ordenou a volta imediata da bela índia à casa do pai. Na volta tiveram que pernoitar no Engenho de Tracunhaém, de Diogo Dias. Quando amanheceu o dia verificou-se o desaparecimento da índia, possivelmente escondida por Diogo Dias. Os seu irmão reclamaram muito mas nada conseguiram e voltaram para casa sem a irmã. Em pouco tempo, insuflados pelos franceses, os chefes potiguaras se reuniram para planejar a vingança. Movimentaram cerca de dois mil guerreiros da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Os índios cercaram o engenho fortificado e usaram de um ardil: apenas alguns índios se deixaram ver para fazer crer que era ação de um pequeno grupo.

Quando os defensores do engenho saíram para contra-atacar, foram atacados por uma multidão de índios. Daí, segue-se a morte de todos os que moravam no engenho (proprietários, colonos e escravos), seguindo-se o incêndio do engenho. Sobrevivendo da família, apenas dois que estavam ausentes. Outros engenhos de Itamaracá também foram atacados, resultando em 614 mortes.


Mediante tal fato e os angustiosos apelos dos habitantes de Pernambuco, D. João III, rei de Portugal criou a Capitania Real da Paraíba, desmembrando-a da Capitania de Itamaracá.

Habitavam em seu território duas tribos indígenas, separadas apenas pelo Rio Paraíba. Além dos potiguaras, que já habitavam a Paraíba, vieram da região do Rio São Francisco os tabajaras. Havendo sofrido traição de portugueses Piragibe, palavra que significa "braço de peixe", chefe dos tabajaras, resolveu abandonar a aldeia onde morava e, após percorrer o interior, chegou à Paraíba com sua tribo. Estas vivendo em harmonia até que os colonizadores portugueses conseguissem restabelecerem as boas relações.

Às vésperas do início das tentativas de conquista da Paraíba, tanto os franceses, em atos de pirataria e aliados dos índios potiguar que habitavam a região, quantos colonizadores portugueses, prelustravam a região em busca de ouro ou pedras preciosas que supunham aflorar na Serra da Capoaba, e travaram inúmeros combates, até que Martin Leitão resolveu intervir, destruindo muito aldeiamentos indígenas e livrando a região dos franceses intrusos. Tendo sua origem datada a partir da concessão de sesmarias em 1795. Desde então recebeu várias denominações: Ganhamububa, Capochoba, Serra Copaoba e Serra de Raiz.

 Por tudo isso é que o município de Serra da Raiz é considerado por alguns historiadores como um dos primeiros aldeamentos da Capitania da Paraíba, pois logo após a tragédia de Tracunhaém os colonizadores portugueses junto com os índios Tabajaras, que antes  derrotara a tribo Potiguara do então aldeamento da Cupaoba, região que atualmente compreende os municípios de Serra da Raiz, Duas Estradas e Sertaõzinho, avançaram na colonização da Paraíba.

Cronologicamente, a nossa História teve muitos momentos "importantes", dentre os quais podemos destacar que se fazia ponto de pousada dos conquistadores em nome de Portugal, quando buscavam a Serra da Copaoba, atual Serra da Raiz, entre novembro de 1585 e início de 1586. Período em que foi marcado pela violência com que os índios aqui contidos em mais de 40 aldeias, chefiados por Zerobabé, Pau Seco e Iniguassu, foram sumariamente dizimados até meados de 1795, inicialmente, pela truculência dos comandados de Martim Leitão. Além dos mortos e alguns prisioneiros feitos, incendiaram suas aldeias como garantia de que não mais interfeririam na posse da terra paraibana. A mão armada da Corôa se fazia anunciar como poderosa e impiedosa.
                                       
Dentre os primeiros colonizadores do município destaca-se um Senhor Major Costa que construiu, no pequeno aglomerado, uma rústica indústria de beneficiamento e fiação de algodão, conhecida como "Bolandeira", fator primordial para que se construi-se novos prédios em suas imediações, proporcionando o crescimento e o progresso da povoação. Posteriormente foram construídas a Casa Grande, a Senzala, um curral e com a doação de uma faixa de terra pelos seus moradores, foi construída a Capela do Senhor do Bonfim, em taipa, sendo elevada a categoria de paróquia no ano de 1870, pelo Padre Emídio Fernandes. Contudo, nos arquivos da Paróquia da Serra da Raiz está registrado como primeiro pároco o Padre Sebastião Bastos de Almeida. Possuindo a Capela, pequenas dimensões para o número de adeptos, foi totalmente reconstruída em alvenaria na década de 1900, e hoje é a sua igreja matriz, ainda, sob o orago do Senhor de Bonfim.

Bolandeira: Até no fim do século XVX eram utilizadas para o descaroçamento de algodão, separando a semente da pluma; fabricação de goma e farinha: movendo o rodete para ralar mandioca e a prensa para desidratá-la; moagem primitiva de cana-de-açúcar, dentre suas principais funções.
                             
Rua Major Costa
O nome do município, Serra da Raiz, derivou-se de uma raiz de propriedades medicinais, hoje desconhecida, que se encontrava na localidade, a qual foi muito utilizada no passado pelos silvícolas. No entanto, em divisões territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936, o distrito passa a se chamar Barra da Raiz. Porém, com o decreto-lei estadual, datado de 15 de novembro de 1938, o toponômio do então distrito de Serra da Raiz foi alterado para Cupaoba, em alusão a primitiva denominação da região, mas anos depois pelo decreto-lei nº 520, de 31 de dezembro de 1943, o distrito de Cupaoba volta a denominar-se Serra Raiz e perdeu parte do seu território para o novo distrito de Duas Estradas, no município de Caiçara. Segundo a tradição oral um antigo religioso chamado Frei Herculano teria pedido a modificação do nome da vila para Jerusalém, porém o nome não foi mantido.                
                                                
Primeira residência de alvenaria
 construída na cidade, hoje demolida.
Antes da sua emancipação político-administrativa, Serra da Raiz disputou acirradamente contra a cidade de Caiçara o domínio geopolítico da região. Esta rivalidade acarretou uma parcial paralisação do progresso dos dois povoados, fazendo com que os territórios da Serra da Raiz e de Caiçara fossem administrados pelo município de Guarabira até o ano de 1908, quando foi restabelecido o município de Caiçara (Lei 309, de 7 de novembro), do qual Serra da Raiz continuou como parte integrante de seu território até sua emancipação em 1959.  
                                                                                                                                                                          
Em divisão territorial datada de 01 de julho de 1950, o distrito de Raiz da Serra ex-Cupaoba, figura no município de Caiçara. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 01 de julho 1955. Sendo elevado à categoria de município com a denominação de Serra da Raiz, pela lei estadual nº 1962, de 21 de janeiro de 1959, desmembrado de Caiçara. Sede no antigo distrito de Serra Raiz. Constituído de 2 distritos: Serra da Raiz e Duas Estradas/Sertãozinho, ambos desmembrados de Caiçara. Permanecendo assim,  até 22 de dezembro de 1961. Onde, pela lei estadual nº 2058, desmembra do município de Serra da Raiz o distrito de Duas Estradas. Elevado à categoria de município.


Parte da antiga estação ferroviária em solo serrano, divisa de  Serra da Raiz com Duas estradas. 

Fonte IBGE

Em divisão territorial datada de 31 de dezembro de 1963, o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.


Alterações toponímicas distritais

Serra da Raiz para Cupaoba alterado, pelo decreto-lei estadual nº 1164, de 15-11-1938. Cupaoba para Serra da Raiz alterado, pelo decreto-lei estadual nº 520, de 31-12-1943.

Vista panorâmica de Serra da Raiz
2012
Fontes bibliográficas:

IBGE/Wikpédia/Algosobre/Cidades: História e Cotidiano

LIRA, Leandro de Lima, JÁCOME, Aluízio, OLIVEIRA, Andréia Benari, AZEVÊDO, Camila, SAMARA, Érica. História da Paraíba. Monografia de Ensino médio, Campina Grande, 1997.
MIRANDA FREIRE, Carmem Coelho de; História da Paraíba: Período colonial e reino; Ed. Gráfica Universal; João Pessoa; 1974.

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINA GRANDE; Memorial urbano de Campina Grande; Ed. A União; Campina Grande; 1996.

RODRIGUES, Janete Lins; Cartilha paraibana; Aspectos Geo-históricos e folclóricos; Ed. Gafset; João Pessoa; 1993.

NASCIMENTO FILHO, Carmelo Ribeiro do.],]; Fronteira Móvel: os homens livres pobres e a produção do espaço da Mata Sul da Paraíba (1799-1881). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), 2006.

BURITI, Iranilson; OLIVEIRA, Catarina. Paraíba. Meu passado, meu presente.Curitiba: Base, 2009.
                                               
ALMEIDA, Horácio de. História da Paraíba, tomo I. 2 edição, João Pessoa, Editora Universitária da UFPB, 1978. (Capítulo II).



 Adriano Miguel de Aquino
Pesquisa e adaptação
                 

HISTÓRIA COMPLEMENTAR                                       
                                                                                                                     
Localização da Copaoba ou Cupaoba

Já no primeiro século XVI, do Descobrimento do Brasil, a serra da Copaoba era célebre da história pré-colonial da Paraíba. No início daquele século os índios potigura habitavam aquela montanha. O Pau-Seco, um de seus chefes, em l567, matinha relações comerciais com o francês Jacques Riffaut, ajudando no contrabando do pau-brasil.


Os primeiros livros de História da Paraíba focalizam bem a situação da Copaoba. O próprio Frei Vicente Salvador, em História do Brasil, narra: “...Copaoba assenta-se na Paraíba”. Além deste, o “Sumário das Armadas” ao fazer referência dos limites da Capitania Paraíba, após citar as demais confrontações, declara: “...que (para o interior) chegam até a Serra da Copaoba”. Já noutros escritos, lê-se: a copaoba de outros tempos “compreendia toda a frente oriental da Borborema, desde Serra da Raiz ao território de Areia”. Vale salientar que a região de Areia era conhecida, no passado, como Serra de Bruxaxá, desde 1715, ou até mesmo antes. (Ver Sesmaria nº 198).


A população indígena que habitava a Copaoba ocupava-se, principalmente, no “abundante corte de pau-brasil”, cuja mercadoria era considerada e comercializada como “o principal produto de nosso comércio”, bem como viviam da caça e da pesca.


O governador holandês, Elias Herckaman, em sua Descrição Geral da Paraíba, ao registrar os limites da Paraíba, informa : “... para o Ocidente, estende-se, até o presente não se observa senão até as montanhas da Copaoba”.


Horário de Almeida, ao tratar da população da Capitania da Paraíba, registrou: “A população que ocupava o litoral ia, pouco a pouco, penetrando o interior, e não havia ainda ultrapassado a serra da Copaoba, nas nascentes do Camaratuba” (Brejo de Areia). O escritor serrano, Manoel Madruga, focalizou a montanha de seu nascimento, da seguinte forma: “... O chapadão em que Serra da Raiz se focaliza foi cenário de luta angustiantes pela conquista do pau-brasil, foi anfiteatro belicoso das confidências e dos sonhos de amor da linda filha de INIGUASSU com o aventureiro - um mameluco de Olinda, foi o caudal por onde escorreu o - sangue lusitano e o sangue aborígene no turbulento dos séculos”. Ele está se referindo a Tragédia de Tracunhaém, em l574.


O escritor caiçarense, cônego Francisco Lima, descreveu a Serra da Raiz da seguinte maneira: “A Serra da Raiz, onde se acha a vila de mesmo nome e o Seminário Ferial, é a antiga Copaoba, já conhecida dos holandeses, e de que fala BARLEAUS no seu belo poema latino que escreveu sobre a colônia holandesa. É um contraforte da Borborema que se aproxima do litoral. Goza-se ali de ar muito puro, e temperatura agradabilíssima no verão”.


A serra da Copaoba, em 1599, foi considerada pelo Padre Pero Rodrigues (ver índios), como sendo a “ZONA QUE CONSIDERA UNIDA, HISTORICAMENTE, A CAPITANIA DO RIO GRANDE”, atual Estado do Rio Grande do Norte.


Até que se prove o contrário, a antiga serra da Copoaba é toda extensão do atual município de Serra da Raiz e as confrontações de parte dos territórios de Bananeiras, Guarabira e Solânea. Sua formação montanhosa favorecia e muito a permanência dos índios naquela localidade. O que é inaceitável é atribuir a regiao de Areia, como sendo a antiga Copaoba, conforme registraram alguns historiadores.


Uma das provas mais contudentes, de que realmente, Serra da Raiz dos dias atuais é mesmo a antiga Copaoba, é o achado do Capitao-mor da Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho, em dezembro de 1598, quando se deparou, “na banda do poente daquela serra”, com um aglomerado de três pedras juntas uma das outras, que os habitantes daquele município a batizaram de “Loca da Nega”, a cerca de 1 km, ao norte da cidade serrana, no sítio Trindade, como se verifica adiante, no capítulo XVI.


Fonte: João Batista Lucas da Silva 
Historiador Autodidata



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